
D. José Cordeiro
Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas
Mensagem
O tema da IX edição do Festival Internacional de Órgão de Braga (FIOB) é "O órgão e a dança". Ao termo "dança" atribui-se o significado amplo de movimento. Assim, logo à partida, a própria música é movimento, de notas musicais, de sons, e muitas vezes nos impele ao movimento do corpo.
Na história Universal da Música vários são os exemplos de composições que tomam por base a "dança", como são as Suites. Até é recorrente dizer-se: «conforme se toca, assim se dança».
Na Igreja, aos momentos mais festivos, em especial na Páscoa e no Natal, eram comuns excertos musicais mais alegres e ritmados que, correspondiam a danças ou em muito se pareciam com elas.
O movimento, mesmo que não associado às melodias, está sempre presente nas celebrações. São vários os ritos que têm associados movimentos. Em várias geografias do planeta o louvor prestado a Deus faz-se com cantos acompanhados de danças e movimentos do corpo. A dança foi sempre um elemento essencial da ação ritual.
Nos textos bíblicos, do Antigo ao Novo Testamento, a dança aparece muitas vezes associada aos momentos de maior alegria e festa, à semelhança da Música na sua generalidade. A oração de ação de graças é como que a participação numa dança maior: «para mim, converteste o meu pranto numa dança; retiraste-me a veste de penitência e ornaste-me de alegria. Por isso, o meu ser te cantará sem cessar; louvar-te-ei para sempre, Senhor, meu Deus» (Sl 30, 12).
Até a arte escultórica representa em retábulos anjos que parecem dançar num misto de expressão de alegria e louvor, como nas representações da Ascensão e da Assunção, no Nascimento ou da Ressurreição. A dança faz parte das ações gestuais e da linguagem não verbal da Liturgia cristã.
A dança é, deste modo, expressão humana que dá forma ao sentimento de alegria. É uma manifestação artística equiparável à Música, à Pintura ou à Literatura. É, em última análise, uma forma de comunicação e de expressão, porque não, do sentimento de fé. «Deus torna-se parte do nosso pranto e convida-nos a aprender a dançar, não sós, mas com outros, compartilhando da própria compaixão de Deus, tanto dando como recebendo» (H. Nouwen).
O Festival de Órgão é já uma marca indubitável na programação cultural e artística nacional, que projeta Braga e a sua tradição musical ligada ao rei dos instrumentos além-fronteiras. A cada ano as igrejas de Braga recebem público que chega de várias partes do mundo reconhecendo o caráter singular de uma programação que apesar de erudita surpreende e tem a especificidade de assentar na utilização de órgãos históricos, em alguns dos 47 órgãos da cidade.
O FIOB trouxe a revitalização da maioria dos instrumentos, mesmo com o restauro de 7 instrumentos, e alterou a forma como as pessoas olham para o órgão de tubos e para a sua música, numa missão que vai muito além da de um evento e coloca os seus objetivos na Educação para o Património, na conservação e valorização dos órgãos, num amplo respeito e reconhecimento pela herança do passado, e pelo legado que transmitimos às gerações futuras.